terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Na Bruzundanga
era assim:


"
(...) toda a vez que um artigo ferir
interesses de parentes de pessoas da
‘situação’ ou de membros dela,
fica entendido que não tem aplicação
(...)".


Lima Barreto ?


Um louco, um alcoólatra, um jornalista
andarilho urbano sempre atento
às injustiças e massacres sociais,
funcionário público.

DISCRIMINADO: negro e brasileiro.


Não é por acaso que o grande
escritor (Os Bruzundangas,
Triste Fim de Policarpo Quaresma,
A Nova Califórnia e Outros Contos,
Recordações do Escrivão Isaías Caminha
entre outros) foi escolhido como um
"patrono sentimental" do nosso coletivo.


Tido como "o sucessor" do mestre Machado,
Afonso Henriques de Lima Barreto não
desceu na goela da sociedade branca
do início do século XX: saudosa
da escravatura.

Pancada após pancada, derrubaram
Barreto do posto que sempre deveria
ter ocupado na literatura nacional,
reduzindo-o a um monte de carne humana

que morreu, aos 36 anos de idade,
encarcerada em um hospício de subúrbio,
não sem antes deixar registrada a
obra Cemitério dos Vivos na qual assim
relata sua passagem pela
"clínica de loucos da Praia Vermelha":


"(...) que, por ele, me punha na rua. Voltei para o pátio.
Que coisa, meu Deus! Estava ali que nem um peru,
no meio de muitos outros, pastoreado por
um bom português, que tinha um ar rude,
mas doce e compassivo, de camponês transmontano.


Ele já me conhecia da outra vez.
Chamava-me você e me deu cigarros.
Da outra vez, fui para a casa-forte e ele me fez
baldear a varanda, lavar o banheiro,
onde me deu um excelente banho
de ducha de chicote.


Todos nós estávamos nus, as portas abertas,
e eu tive muito pudor. Eu me lembrei do banho
de vapor de Dostoiévski, na Casa dos Mortos.
Quando baldeei, chorei; mas lembrei de Cervantes,
do próprio Dostoiévski, que pior deviam
ter sofrido em Argel e na Sibéria (...)".


Após sua morte, e diante da irrefreável
popularidade do escritor, a sociedade racista
tentou embranquecer Lima Barreto
como condição de sua reabilitação.

Lima Barreto,
tal como pretendido pelos salões das elites.




O "nosso" verdadeiro
Lima Barreto


Não deu certo...

Hoje nós sabemos que o negro
Afonso Henriques de Lima Barreto
foi mais um super-herói brasileiro.

Um comentário:

Daniel Oliveira disse...

Ola Alexandre, parabéns pela iniciativa. O blog está leve e pontual, será uma ferramenta primordial nesta nossa caminhada rumo ao reconhecimento e valorização do nosso segmento, tão vilipendiado e desprezado pela PBH, mas fundamental na formação critica das nossas crianças. Até a vitória, sempre! Daniel Oliveira - EM José de Calasanz - regional nordeste